quarta-feira, 28 de maio de 2008

Como Aprender (sem dominar) Qualquer Idioma em 1 Hora


Desmantelando o Árabe em 45 minutos


Conversar em Russo em 60 minutos?

Afinal, quanto tempo se demora para aprender chinês, japonês, ou até mesmo espanhol ou gaélico irlandês? Se eu te dissesse "em menos de uma hora", você acreditaria?

Aqui estão as respostas…

Antes de você investir (ou perder) milhares de horas aprendendo um idioma, você deve desmantelá-lo. Durante minha pesquisa de doutorado em Princeton, que foquei na neurociência e sobre a dificuldade do aprendizado do japonês por angloparlantes, consegui mostrar que é através do tão negligenciado desmantelamento de uma língua que alguém pode aprender rápido ou não um novo idioma.

Até agora, já usei esse processo da desmantelação nos seguintes idiomas: Japonês, Mandarin (Chinês), Espanhol, Italiano, Português, Alemão, Norueguês, Gaélico Irlandês, Coreano, e talvez mais uma dúzia de outras línguas. Estou longe de ser fluente em todos esses idiomas, mas posso conversar nelas sem muitos problemas.

Mas, como é possível se tornar fluente em alguma língua desconhecida num curto período de tempo? Começa-se analisando-a passo-a-passo, vendo os detalhes, e abandonando todo o medo dela.

Considere um novo idioma como um esporte.

Claro, existem certos pré-requisitos psicológicos (a altura é uma vantagem no basquete), regras (pênalti é pênalti, falta é falta), e a certeza de que você se tornará bom naquilo (e em quanto tempo).

Com idiomas, não muda muita coisa. Quais são suas ferramentas, e como você as usa para ir em direção ao seu alvo?

Se você é um nipoparlante (aka japonês), possivelmente tem uma certa deficiência em falar mais do que 20 fonemas e, dependendo do idioma que você quer aprender, o aprendizado pode se tornar quase impossível. Então, escolher um idioma compatível e se possível com sons e ordem de palavras similares (como o espanhol, por exemplo), do que um com miríades de novos sons que vocês não conseguirá distinguir (como o chinês), pode fazer toda a diferença entre ter uma conversação boa em 3 meses em vez de 3 anos.

Vamos dar uma olhada em alguns métodos que eu utilizei recentemente para desmantelar a língua russa e a árabe para determinar se eu conseguiria alcançar a fluência dentro de um período de 3 meses. Ambos foram feitos em menos de uma hora de conversação com falantes nativos sentados próximos de mim no avião.

Seis perguntinhas de ouro

Aqui estão algumas perguntass que eu apliquei para o início do aprendizado. Basicamente, é isto:

1. Existem novas estruturas gramaticais que poderiam retardar minha fluência? por exemplo, se a ordem e Sujeito-Objeto-Verbo (SOV) ou Sujeito-Verbo-Objeto (SVO), e se existem declinações nos substantivos

2. Existem novos sons que irão duplicar ou até mesmo quadruplicar esse tempo de aprendizado? especialmente vogais

3. Qual o grau de semelhança que o idioma que irei estudar tem com minha língua nativa? No que esse aprendizado irá ajudar ou no que irá interferir? (Me fará esquecer um idioma anterior? Me causará interferências fatais, como aprender Alemão depois de Holandês?)

4. Depois de todas as respostas: Qual o grau de dificuldade que terei, e quanto tempo levaria para me tornar fluente?

Não é preciso muito para responder a essas perguntas. Tudo o que você precisa é de algumas poucas frases traduzidas da sua língua mãe para a língua que você quer aprender.

Algumas das minhas favoritas, seguem abaixo:

A maçã é vermelha.
A maçã é do João.
Eu dou a maçã para João.
Nós damos a ele a maçã.
Ele a (maçã) dá para ele (João).
Ela a (maçã) dá para ele (João).

Esses seis frases sozinhas dizem muito sobre um idioma, e um pouco das potenciais dificuldades que você encontrará ao longo do caminho.

Primeiramente, elas me ajudam a ver se os verbos são conjugados, e como eles o são, baseados em quem fala (ambos concordando em gênero e número). Logo, eu posso imediatamente identificar algumas diferenças em alguns idiomas: O lugar dos objetos indiretos (João), objetos diretos (a maçã), e seus respectivos pronomes (ele, a). Eu também poderia seguir essas frases em formas negativas ("Eu não dou..."), e tempos verbais diferentes para ver se os mesmos são expressados em palavras separadas (“bu” em chinês é usado como negação, por exemplo) ou as mudanças de verbo (“-nai” ou “-masen” em Japonês), este último torna uma linguagem muito mais difícil de aprender.

Em segundo lugar, eu estou procurando estruturas fundamentais nas frases: afinal, é sujeito-verbo-objeto (SVO) como em inglês e chinês (“Eu como a maçã”), é sujeito-objeto-verbo (SOV) com em japonês (“Eu a mação como”), ou outra coisa? Se você fala inglês como primeira língua, SOV será mais difícil de aprender do que o familiar SVO, mais uma vez que você entenda pelo menos um (a gramática coreana é quase idêntica a japonesa, e no alemão temos muitos verbos com construções no fim), seu cérebro será formatado para novas idiomas SOV.

E terceiro, as primeiras três frases mostram se o idioma tem muitas complicações ou casos nominativos. O que são casos nominativos? Em alemão, por exemplo, os artigos “O” e "A" não são tão simples. Podem ser der, das, die, dem, den e ainda mais dependendo do tempo. Dá dor de cabeça, eu sei. Em russo é ainda pior. ;)

Todas as frases acima são apenas 6 de 10, ao total. Aqui vão mais duas:

Eu tenho de lhe dar a maçã.
Eu quero dar-lhe a maçã.

Esses dois servem para ver se existem verbos auxiliares, ou se há mudanças no fim de cada verbo. Um bom atalho, independente de quão bom você seja em algum idioma, é conjugar verbos como “querer,” “precisar,” “ter,” “dever,” etc. Em espanhol e em muitos outros idiomas, é permitido que você se expresse com “Eu preciso/quero/tenho que/devo” + a forma infinitiva de qualquer verbo. Aprendendo as variação de meia dúzia deles, vocês tem acesso a todos os verbos. Isso não ajuda quando alguém está falando, mas já permite se expressar melhor, dando um domínio mais rápido no idioma.

Se esses verbos auxiliares são expressados com mudanças no verbo (o que freqüentemente acontece no japonês) em vez de palavras separadas (que acontece no Chinês, por exemplo), você terá uma pequena barreira logo de início.

Sons e Escrita

Se você acha que o português é só um espanhol com palavras diferentes, pense de novo. Gaste um pouco de tempo praticando as vogais "abertas" do português brasileiro. Recomendo bastante sorvete :P


Um menu fonético do russo, e...


20 minutos depois, leitura natural em alfabeto cirílico

Aprender sistemas próprios de escrita só é realmente prático para idiomas que tenham ao menos um sistema fonético escrito de 50 ou menos sons - espanhol, russo e japonês seriam interessantes. O chinês falha nesse quesito porque sua múltipla variação de tons não cria sons simples (pelo contrário!), além de criar um pobre sistema fonético. Se você for estudar mandarim, escolha algo incomum como o GR em vez do Pinyin, se possível. A primeira vista é mais difícil de aprender, mas eu nunca vi um estudante de Pyinin com tons tão precisos quanto alguém que estudou o sistema GR.

Em todo o caso, trate os idiomas como um esporte.

Aprenda as regras primeiro, determine se vale a pena o investimento de tempo, e aí então se foque no aprendizado. Escolher o seu alvo às vezes é mais importante do que o seu método.

Original, em inglês:
http://www.fourhourworkweek.com/blog/2007/11/07/how-to-learn-but-not-master-any-language-in-1-hour-plus-a-favor/

3 comentários:

Anônimo disse...

Na verdade achei muito interessante
sobre tudo, e fiquei até disposto estudar mas um pouco outros indiomas...

Continue fazendo o que vc gosta.

Que Deus te abençoe♥

Duda disse...

Anônimo querido, aprenda o português primeiro, vai te ajudar com outras línguas.

Um blog bastante proveitoso, parabéns!

Suavenigma disse...

Tio Carlos(assim te chamavámos em nossa casa em Dom Pedrito) pela amizade que minha mãe Solange Royes tinha por todos vocês.Me recordo ainda, das sessões de slides das tuas viagens, lá na casa da vó LiLi, era emocionante para nós, que não tinhamos a opurtunidade, de siquer sair daquele nosso espaçozinho ainda.
Hoje me orgulho de ter te conhecido e te cito sempre, quando a conversa é sabedoria e cultura em grupos de amigos.
Que mais posso dizer?!Senão te desejar muita saúde e saudarte com um forte abraço.
Berenice Royes( a mais velha das filhas da Solange)